Com objetivo de debater com profissionais de saúde do município a importância do acolhimento e olhar sensível aos povos de raiz de matriz africana, foi realizado o seminário “Religiões de Matriz Africana e Saúde: uma perspectiva de Integralidade”, na Casa de Oxumaré, no Engenho Velho da Federação, nesta quarta-feira (17). As particularidades das religiões foram reforçadas durante a apresentação dos temas: “Fisiologia e Anatomia dos Chacras”, “Comida de Terreiro e Identidade Afrodiasporica” e “Religiosidade de terreiro como estratégia de saúde em contexto de confinamento de saúde”.

A ação integra o Programa de Combate ao Racismo Institucional e Intolerância Religiosa (PCRI), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria de Atenção Especializada/Campo Temático de Saúde da População Negra.

O seminário visa ampliar o diálogo para a promoção da equidade, para o combate ao racismo institucional e à intolerância religiosa em saúde, e contou com a participação de representantes de instituições não governamentais que desenvolvem ações de saúde junto ao segmento religioso e profissionais de saúde do município.

De acordo com Maiara de Queiroz, farmacêutica do 12º Distrito Sanitário de Itapagipe e membro do PCRI na SMS, a perspectiva do evento é promover para os servidores uma visão mais ampliada da saúde municipal, através do diálogo. “É importante trazer essa abordagem do cuidado dentro das religiões de matriz africana. Nosso intuito aqui é que os profissionais tenham o olhar sensível para saúde do nosso povo, buscando uma assistência livre de preconceito e discriminação”, assinala.

A profissional destaca a importância da sensibilidade dos profissionais com o uso de plantas medicinais, que é uma tradição de matriz africana e precisa ser respeitada no momento do atendimento. “Esse é apenas um exemplo que a gente está trazendo para sensibilizar. É preciso ter esse cuidado mais afetivo que é feito de acolhida, de escuta. A gente também está fazendo isso dentro das nossas unidades, no sentido de refletir sobre o racismo, o racismo institucional e o preconceito que ainda existe contra as religiões de matriz africanas, abordando também nossa saúde dentro dessa perspectiva”.

Respeito às tradições – Participante da mesa de discussão, a mãe de santo e iakekerê da Casa Oxumaré, Sandra Bispo, atenta para a sensibilidade dos profissionais de saúde com relação às indicações alimentares. “Outro dia uma pessoa iniciada aqui foi ao nutricionista e voltou com uma dieta cheia de alimentos que estavam restritos. É preciso o olhar para as quizilas, que são as proibições alimentares pautadas na relação que o alimento estabelece com os nkisi, entidades ancestrais”, explica.

Com relação ao uso dos chás, a mãe de santo contou que recentemente entrou em consenso com a médica que acompanha sua saúde. “Fui para atendimento na semana passada e perguntei ‘doutora, a senhora nunca tomou um mastruz batido? Tão bom expectorante, anti-inflamatório’. Ela então sorriu e disse: ‘quem nunca tomou um chá?’’, contou a iakekerê.

 

FOTOS: Paulo Almeida

TEXTO/SECOM