Audi_hanseO preconceito e a discriminação contra os portadores de Hanseníase, conhecida no passado como lepra, causam mais dores do que a própria doença. Em geral esse foi o sentimento demonstrado hoje (11) pelas pessoas portadoras de Hanseníase que participaram de audiência pública sobre o assunto na Câmara Municipal.

O debate promovido pela vereadora Marta Rodrigues discutiu formas de como o sistema público e a sociedade organizada podem ajudar no enfrentamento e controle da doença. A Secretaria Municipal da Saúde foi representada pela enfermeira Vanessa Oliveira, que falou das ações da SMS no atendimento aos pacientes.

A Hanseníase é uma doença infecciosa que atinge a pele e os nervos dos braços, mãos, pernas, pés, orelhas, olhos e nariz. A transmissão se dá por meio de uma pessoa que apresenta a forma infectante e que, estando sem tratamento, a transmite por vias respiratórias (secreções nasais, tosses, espirros). Ela pode causar incapacidades físicas, evitadas com o diagnóstico precoce e o tratamento imediato. A doença tem cura e o tratamento é oferecido gratuitamente pela Prefeitura de Salvador, através das unidades de saúde do município.

Os sinais e sintomas mais comuns da doença são manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele, em qualquer parte do corpo, com perda da sensibilidade ao toque, dor ou mudança da temperatura (quente ou frio). A pessoa com Hanseníase se queima ou se machuca e não percebe ou nada sente. Além da perda de força muscular, ocorre diminuição do suor e surgem caroços pelo corpo.

A audiência, mais do que discutir soluções e encaminhamentos no tratamento aos portadores da doença, mostrou fortes emoções nos depoimentos de alguns dos pacientes. Diana Brasil Pinho, de 52 anos, por exemplo, teve o diagnóstico confirmado há dois anos, mas a doença já estava instalada no organismo há 10. Assim como outras colegas de tratamento, ela perdeu a sensibilidade nas pernas, mãos e braços. Alega que as dores são companheiras diárias, além dos problemas de visão e estomacais. Porém, reclama prioritariamente do preconceito e do afastamento das pessoas por causa da doença.

Atendimento

A enfermeira Vanessa Oliveira, da SMS, frisou que mesmo com todas as ações realizadas pela Secretaria ainda existem pessoas que não sabem que estão doentes e não buscam assistência, já que os sintomas iniciais não causam desconforto.  “O grande problema da Hanseníase é o estigma que existe em torno da doença e o desconhecimento. O diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de evitar as incapacidades geradas, e este é essencialmente clínico. O familiar de um paciente com hanseníase também precisa ser consultado”, explicou.

Em Salvador, o atendimento é feito em toda a rede municipal e nas cinco unidades referência: Unidade Maria Conceição Imabassahy (Pau Miúdo), Mario Andréa (Sete Portas), CSU-Pernambués (Cabula/Beiru), PA Professor Clementino Fraga (Centenário) e PA Adroaldo Albergaria (Periperi). Os Distritos Sanitários de Cajazeiras, Subúrbio Ferroviário, Pau da Lima, Itapuã e Itapagipe são os que registram maior incidência e notificação da doença na cidade, observando-se o surgimento de 360 novos casos por ano.

A enfermeira Vanessa chama atenção para a importância do tratamento contínuo. “O abandono é um problema sério, principalmente por conta das pessoas acharem que ficarão estigmatizadas entre os vizinhos e as comunidades onde moram”, afirmou. Também chamou atenção para o alto número de crianças e pré-adolescentes abaixo dos 15 anos que são infectados, e por isso aconselhou que em caso de suspeita, o posto de saúde deve ser procurado imediatamente para que seja iniciado o tratamento.

Além do atendimento médico e distribuição de medicamentos, o município realiza constantemente a capacitação de técnicos para atendimento da Hanseníase.

O Padre André Setin, coordenador da Pastoral da Saúde, e que também participou da audiência, defendeu que as medidas e ações de atendimento aos doentes sejam feitas após discussão com a comunidade, “após serem ouvidas as pessoas verdadeiramente interessadas no tratamento, que são as portadoras da Hanseníase”.